Artigo

E (quase) tudo a pandemia levou

Artigo de opinião de Karina Simões, Head of Hotel Advisory

Setembro 01, 2020

O setor turístico em Portugal está hoje em crise, mas assim que houver sinal de abrandamento da pandemia, vai ser fundamental para impulsionar a economia do nosso país, sendo que todos os fatores distintivos que fazem de Portugal um destino de eleição continuam "imunes" a este vírus.

Entrámos em 2020 a comemorar mais um ano histórico para o país, especialmente no que respeita aos indicadores do Turismo nacional, e com grande expetativa em torno do que este novo ano nos reservava. Verdade é que os dois primeiros meses do ano não defraudaram as estimativas, mas eis que – num abrir e fechar de olhos – as nossas vidas mudaram.

Quando o combate à pandemia exigiu um «confinamento rigoroso e apertado», o Turismo fechou portas um pouco por todo o mundo, assistindo-se ao encerramento da generalidade das unidades de alojamento, muitas delas em funcionamento ininterrupto há mais de 50 anos. Um cenário como nunca antes visto, a serem reportadas taxas de ocupação na hotelaria de 0% na generalidade das cidades do mundo. Em Portugal, o cenário é ainda mais negro quando sabemos que somos um dos países europeus onde o turismo tem mais peso no PIB, ultrapassados apenas pela Grécia e pela Croácia, segundo o World Travel & Tourism Council.

Passados cinco meses deste cenário que seria impossível de prever, e após milhões de conjunturas sobre o potencial impacto de toda esta situação aos mais variados níveis, eis que começamos a assistir a alguns sinais de melhoria, ainda que mais contida do que a perspetivada.

Grande expectativa era depositada em torno dos números do Turismo do Algarve, dado ser a região turística de lazer de referência a nível nacional, mas nesta fase os números não se revelam tão animadores. Estão aquém das expectativas, mas com forte contributo (Obrigada!) do mercado nacional. Dados provisórios divulgados pela AHETA (Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve), revelam que a taxa de ocupação global média/quarto caiu 60% em julho face ao mesmo período do ano passado.

Por outro lado, cidades como Lisboa e Porto, as quais possuem ainda algumas unidades de alojamento fechadas, estão a operar a níveis próximos dos 10%, dificultando desta forma a rentabilização das mesmas. 

Retiraram-nos das contas os Britânicos mas honram-nos com eventos como a Champions League realizados na capital, assim como o Grande Prémio de Portugal em Fórmula 1 e a última corrida da temporada de 2020 da Moto GP em outubro e novembro respetivamente, ambos no Autódromo Internacional do Algarve.

Acredito também que em setembro as empresas comecem a aligeirar as restrições aos seus colaboradores e que o número de viagens de negócios acentue também a sua curva ascendente.

Neste “mar de prejuízos” para o Turismo em 2020, não podemos esquecer-nos que há destinos que sairão a ganhar. Olhemos para o interior do Norte e do Alentejo, destinos não-massificados e “desertos” do nosso país que são vistos pelos turistas como um refúgio onde o vírus não consegue chegar, contando atualmente com taxas de ocupação superiores às do ano passado.

Mais do que nunca, não nos podemos esquecer que os fundamentais do Turismo de Portugal se mantêm e que esta é uma situação que está a ser enfrentada por todas as nações.

O setor turístico em Portugal está hoje em crise, mas assim que houver sinal de abrandamento da pandemia, vai ser fundamental para impulsionar a economia do nosso país, sendo que todos os fatores distintivos que fazem de Portugal um destino de eleição continuam “imunes” a este vírus, que não nos levou a hospitalidade, o clima, a excelente gastronomia e a boa qualidade de vida.

A verdade é que quando falo com investidores, clientes, amigos, conhecidos, e recolho a sua opinião em relação a eventuais investimentos ou visitas ao nosso país, as respostas enchem-me de alento. Entendo também que tem sido feito um esforço por parte do Governo em criar medidas não só de atração de mercados internacionais, mas também de apoio às empresas turísticas, aos mais variados níveis. Contudo, o impacto foi severo neste sector, e as referidas medidas poderão não estar ajustadas à real dimensão do problema. De salientar, no entanto, que as análises de tesouraria devem ser efetuadas com rigor e todos os incentivos alocados da melhor forma, sob pena de com estas medidas estarmos apenas a adiar um final menos desejável.  

As expetativas centram-se agora em 2021, na esperança que consigamos sair mais fortes desta questão sanitária que instalou o caos aos mais variados níveis. 

*Artigo de opinião escrito para a Visão Online

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