Artigo

A conveniência é tudo? Não, não é…

Artigo de opinião de Pedro Lancastre, CEO JLL Portugal

Dezembro 03, 2020

O teletrabalho veio para ficar e vai lutar contra os escritórios tradicionais, e por isso é preciso que estes espaços proporcionem uma melhor experiência aos colaboradores.

Hoje em dia pode-se fazer quase tudo a partir de casa. Já o sabíamos antes, mas foi a pandemia que nos impôs tal realidade. Desde março, passámos a trabalhar muito mais tempo a partir de casa, fizemos muito mais compras a partir de casa, os nossos filhos tiveram aulas a partir de casa, e até chegámos a visitar museus ou a ver concertos e assistir a teatros, tudo a partir de casa. A tecnologia deu-nos os meios para que isso fosse possível e a pandemia obrigou-nos a fazê-lo. Em suma, temos hoje o conforto de poder descomplicar as nossas rotinas a partir de casa, sem nos deslocarmos. A isso chama-se conveniência.

Mas a pergunta impõe-se: a conveniência é suficiente?

É excelente, sim. Mas não nos completa. Precisamos da experiência, de um estímulo sensorial. A conveniência de termos um takeaway do nosso restaurante preferido não vai substituir a experiência de ir ao espaço que tanto gostamos, com uma decoração espetacular, ou com uma música vibrante. A conveniência de fazermos ginástica a partir de casa, nada tem a ver com a experiência de irmos a um bom ginásio, moderno, com os melhores equipamentos. Trabalharmos em casa também ótimo! Mas em casa, as relações interpessoais e o espírito colaborativo não são iguais. Precisamos da experiência de estar no escritório, a trocar ideias com os nossos colegas ou de termos acesso a um outro ambiente.

O equilíbrio entre conveniência/experiência tornou-se, assim, uma prioridade e será uma das tendências marcantes no futuro, incluindo no mercado imobiliário. E porquê? Porque os espaços onde nos movimentamos terão um papel decisivo na construção deste equilíbrio. Se podemos ter o conforto de fazer tudo a partir de casa, porque é que haveríamos de querer sair e frequentar outros espaços? Precisamente, para termos uma “experiência”, sendo que o espaço poderá ser o gatilho inicial que nos vai fazer querer sair de casa. A chave agora é criar espaços que nos proporcionem esses estímulos diferenciadores, que nos motivem a visitá-los.

Os escritórios são um dos segmentos do imobiliário onde essa atuação é mais urgente. Colocar experiência humana no centro era uma tendência que já começava a desenhar-se neste setor, mas a pandemia veio acelerá-la e os escritórios estão em fase de grande mudança. O teletrabalho veio para ficar e vai lutar contra os escritórios tradicionais, e por isso é preciso que estes espaços proporcionem uma melhor experiência aos colaboradores, algo que os leve a querer sair do conforto das suas casas. O design, a tecnologia, a luz natural, os espaços colaborativos e mais informais, serão variáveis cada vez mais presentes quando as empresas estiverem a repensar os seus escritórios.

Nas lojas, a lógica é semelhante e o desafio não é menor. Isto porque, se das nossas casas conseguimos, com a máxima conveniência, comprar quase tudo, o que nos poderá provocar a sair de casa para ir a uma loja? Com o online a ganhar espaço, as lojas têm de ser muito mais que um ponto de recolha de compras. Estão por isso na linha da frente desta revolução da “experiência”, sendo o tipo de imobiliário que mais se tem vindo a transformar nos últimos anos.

Já as casas, passaram a competir bastante mais com os outros espaços onde nos movimentamos, inclusive com aqueles que dão resposta às experiências de lazer. Passou a ser um espaço com utilização intensiva, deixando de ser meramente utilitário para ser também de entretenimento, socialização, trabalho e bem-estar. De tal forma, que um dos setores de comércio que cresceu durante a pandemia foi o de artigos para a casa e de bricolage. Como espaço de conveniência, a “casa” foi alvo de investimentos pessoais ao longo deste período para tornar-se mais atrativa e agradável.

Também o imobiliário logístico foi positivamente impactado durante a pandemia, beneficiando da prioritização da conveniência nas nossas vidas. O aumento das compras online fez crescer a necessidade deste tipo de espaços, dos quais se exige maior qualidade e proximidade ao ponto de entrega. Uma tendência que também veio para ficar.

“Precisamos da experiência de estar no escritório, a trocar ideias com os nossos colegas”

Pedro Lancastre, CEO, JLL Portugal

Em resumo, se é verdade que a pandemia veio dar prioridade à conveniência, com impactos positivos a nível do setor imobiliário nos segmentos da habitação e da logística, também é verdade que, à medida que vamos aprendendo a viver neste novo normal, passámos a dar ainda mais valor à experiência. Temos uma necessidade de complementar o que é básico e utilitário. O imobiliário de escritórios, de retalho e, até o de turismo, serão dos mais impactados com esta necessidade de criar a tal experiência, desempenhando um papel crucial na geração de estímulos positivos quer estejamos a falar de um colaborador, de um comprador ou de um turista.

A transformação está em marcha!

*Artigo de opinião escrito para a Visão

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