Sustentabilidade: Acelerar para não perder o comboio
Artigo de Opinião por Maria Empis, Head of Work Dynamics, JLL Portugal
Sempre que começo uma apresentação sobre a sustentabilidade no imobiliário, lanço um alerta chave aos nossos clientes: Não perca o comboio! Ele já está em andamento e vai muito rápido.
A sustentabilidade é transversal a toda a sociedade e passou a ser uma questão incontornável, quer na esfera particular quer na corporativa. As pessoas e as empresas estão obrigadas a olhar ao bem-estar à preservação do planeta. Isso vê-se nas mais pequenas coisas do quotidiano e os imóveis são uma parte crucial desta equação, pois contribuem para cerca de 40% das emissões de carbono.
Os ocupantes e utilizadores de imobiliário estão muito conscientes desta necessidade de ser “verde” e as suas instalações, estejamos a falar de escritórios, retalho, hotéis ou imóveis industriais ou de logística, terão que estar em conformidade. É uma questão de responsabilidade coletiva pela preservação do ambiente, imposta em grande parte por empresas enquanto ocupantes, na procura de responder perante as suas metas de sustentabilidade corporativa, e com enquadramento cada vez mais exigente de instituições nacionais e internacionais.
E é nesta fase que temos que atuar e rapidamente. Há uma série de acontecimentos, legislação e processos na área da sustentabilidade em marcha acelerada. De tal forma que, se, a curto-prazo, implementar medidas e estratégias de sustentabilidade ainda é tido como uma forma de criar valor adicional e de gerar um prémio nas rendas e preços dos imóveis, muito rapidamente, já a médio-prazo, não o fazer vai implicar perder valor e ser, em contraste, um fator de desconto. Ou seja, de uma forma de incentivo, a sustentabilidade vai passar a ser obrigatória, sob risco de penalização. Desde logo, a nível da liquidez do ativo e de riscos de reputação, mas a tendência aponta mesmo para uma penalização efetiva em termos de taxas.
O cumprimento das regras de ESG, sustentabilidade, já estão a ser um dos critérios incontornáveis na seleção de imóveis e esse caminho está a ser feito de forma muito rápida. Há, contudo, que perceber muito bem que a sustentabilidade no imobiliário não se resume a obter uma certificação e que não se esgota na eficiência energética. O caminho é complexo e há muitos exigências a surgir, com uma enorme panóplia de processos, certificações, regulações e opções que podem e devem ser considerados, com enquadramento não só de âmbito europeu como também com requisitos específicos de aplicação em cada país.
Existem prazos já muito bem definidos: já é obrigatória a apresentação da informação de sustentabilidade nos relatórios & contas das empresas, e a obrigação de cumprimento das metas de descarbonização também está já estabelecida para 2030 (redução de 23% das emissões de carbono) e 2050 (neutralidade carbónica).
Parecem muito longe, mas são já “amanhã”. O tempo está a contar de forma muito rápida e todo o caminho da sustentabilidade demora bastante e tem custos. E é por isso que é preciso estabelecer muito bem os planos e começar a atuar já. Não o fazer, significa perder o comboio no futuro.
*Artigo escrito para a revista Exame