Como a Inteligência Artificial vai transformar o setor imobiliário e as cidades portuguesas nos próximos anos?
Artigo de opinião por Caetano de Bragança, Head of Consulting da JLL
Acredito que o sector imobiliário já entrou numa "era" de transformação sem precedentes, impulsionada pela Inteligência Artificial (IA). Esta revolução tecnológica é, neste momento, apenas uma mudança incremental, mas irá representar um verdadeiro virar de página, afetando todos os agentes do sector e todas as geografias, sem exceção.
Globalmente enfrentamos problemas graves neste setor, como a escassez de habitação acessível em áreas urbanas ou a enorme pegada de carbono provocada pelos edifícios. A aplicação da Inteligência Artificial nestes contextos levará a um acelerar das soluções: ao otimizar o planeamento urbano e soluções arquitetónicas e construtivas, reduzir custos de construção e melhorar a gestão dos processos, as novas ferramentas de IA oferecem uma nova esperança para a resolução de problemas complexos, que podem ser a chave para criarmos cidades mais saudáveis, inclusivas e sustentáveis.
Acredito que a IA não substituirá os profissionais do setor, mas potenciará as suas capacidades: teremos consultoras imobiliárias capazes de fornecer análises de mercado mais precisas e em tempo real, arquitetos com ferramentas que permitem criar espaços mais eficientes e sustentáveis, construtoras a otimizar recursos com novos processos para reduzir desperdícios e aumentar a produtividade. Um exemplo está no imobiliário residencial, onde muitas decisões têm um carácter profundamente emocional e a componente humana continuará a ser difícil de substituir. A IA não substituirá a sensibilidade, empatia e a compreensão que os profissionais do sector trazem para estas transações com grande impacto na vida de vendedores e compradores, mas proporcionará ferramentas para que estes profissionais ofereçam um serviço mais personalizado.
Um dos aspetos mais promissores da IA, em conjunto com a recolha de dados em tempo real, é ajudar a gerir muito melhor os recursos disponíveis e a operação dos edifícios. Já existem vários métodos para análise de dados, que nos permitem otimizar a gestão dos espaços, o consumo de energia, água e outros recursos em edifícios, agir preventivamente na manutenção, contribuindo significativamente para a sustentabilidade e eficiência do sector.
Olhando a Portugal, acredito que a integração da IA resultará num mercado ainda mais dinâmico, transparente e eficiente, algo que não deve ser temido, mas sim celebrado. É uma oportunidade para todos os agentes do setor evoluírem, inovarem e se reinventarem. Atenção: os edifícios continuarão a ser edifícios! No meio de tantas novas ferramentas os princípios fundamentais do imobiliário permanecem, mas a revolução tecnológica promete elevar o sector e representa uma oportunidade para resolvermos problemas complexos.
*Artigo escrito para a Construir