Artigo

Reutilização Urbana

Temos assistido nos últimos tempos a inúmeros argumentos acerca das vantagens da aposta na Reabilitação Urbana, que são inquestionáveis.

Novembro 20, 2012

Temos assistido nos últimos tempos a inúmeros argumentos acerca das vantagens da aposta na Reabilitação Urbana, que são inquestionáveis. No entanto, todos sabemos que a reabilitação de edifícios “custa dinheiro” e que não é a solução para os dias que corre.

Atendendo ao actual momento do mercado imobiliário, em que assistimos à queda dos níveis das rendas em todos os sectores, às dificuldades de financiamento, bem como ao aumento previsto no custo de propriedade de imóveis, nomeadamente com o IMI, penso que a aposta dos proprietários se deverá centrar na reutilização dos edifícios.

A reutilização consiste em usar de novo, em aproveitar ao máximo o que já existe nos edifícios e, com muito pouco investimento, procurar arrendar espaços, quartos ou até casas para gerar rendimento.

Para conseguir fazer a melhor reutilização possível de um edifício são essenciais: 1) Conhecimento profundo do edifício; 2) Conhecimento do mercado e tendências e 3) Criatividade.

Não as coloco por nenhuma ordem de importância, mas penso que apenas com conhecimento do mercado e do activo é que é possível ter criatividade, de modo a que esta seja aplicável e reprodutiva. Mas é essa criatividade que nos permite “fazer muito com pouco” e é disso que precisamos.

Esta intervenção criativa com custos mínimos é essencial, sendo necessário evitar licenciamentos, principalmente de segurança e de térmica que por vezes exigem investimentos mais avultados na reabilitação.

Estamos perante um desafio bastante diferente do que se fazia “antigamente”, em que só se pensava em demolir e construir de novo. Hoje é necessário ser mais informado, técnico e culto e é também isso que torna o desafio muito mais interessante.

Existem em Lisboa e Porto (e em todas as outras cidades portuguesas que conheço) inúmeras oportunidades para aplicar este conceito no imediato – edifícios de escritórios, conventos, edifícios de habitação e até fábricas. Alguns têm projectos ambiciosos aprovados que terão que ser adiados por não existirem condições para a sua concretização, outros que estão devolutos e em franca degradação, outros que já não fazem sentido para o uso que foram construídos, mas todos têm construção, espaço que pode ser aproveitado e reutilizado.

Temos já alguns exemplos deste conceito de reutilização, sendo o caso mais mediático o da LX Factory. No entanto, existem já outros (bons) exemplos, de diferentes escalas, desde o palacete utilizado como residência de estudantes Erasmus a um centro comercial fechado convertido em centro de escritórios e health-club, que contribuem positivamente para atrair pessoas e empresas para zonas anteriormente em decadência das cidades.

A reutilização de edifícios não deve ser encarada como uma solução de longo-prazo, mas sim como uma solução para o momento actual, para criar algum rendimento imediato, que permite “ganhar tempo” até tudo ser um pouco mais claro e, nessa altura, poder tomar decisões mais estratégicas. No entanto, as soluções de curto-prazo têm, por vezes, excelentes resultados que se prolongam no tempo.

Considero que a reutilização é um primeiro passo para a reabilitação das nossas cidades, procurando de novo atrair para os centros as populações e as empresas, dinamizando zonas e bairros.

Deste modo, promove-se também a valorização da zona onde os edifícios se inserem criando melhores condições de mercado a médio prazo.

As nossas cidades precisam de mais gente, de mais densidade populacional, de mais empresas e trabalho para terem massa-crítica e para serem sustentáveis. Por outo lado, as empresas e as pessoas precisam de ter mais tempo e menos custos, e é isso que a concentração urbana (as cidades) lhes oferece.

Penso, por isso, que este é um contributo muito importante que o mercado imobiliário pode dar à recuperação económica do país, disponibilizando espaços a custo mais baixo, promovendo o empreendedorismo e a adaptação da sociedade à nova realidade económica, apoiando a reabilitação urbana e respectiva racionalização e concentração dos recursos ainda existentes.