A fórmula mágica
PIB = G + C + I + EX – IMP (Consumo Público + Consumo Privado + Investimento + Exportações – Importações). Todos os trimestres somos inundados com notícias sobre o PIB: ora cresce, ora decresce.
PIB = G + C + I + EX – IMP (Consumo Público + Consumo Privado + Investimento + Exportações – Importações). Todos os trimestres somos inundados com notícias sobre o PIB: ora cresce, ora decresce. Previsões, revisões, confirmações. Diz o governo, diz o INE e dizem mais umas dezenas de entidades nacionais e internacionais desde a UE, bancos, universidades e fundos de investimento. Sendo obviamente necessário saber se crescemos ou não, julgo ser importante perceber como e porque crescemos de determinada forma. E, mais importante ainda, como queremos crescer. Ou seja, adicionar um pouco de estratégia para o país talvez não seja mal pensado.
É geralmente aceite que Portugal aposta, desde há anos, no consumo privado para impulsionar o seu crescimento. Não por convicção ou por estratégia, mas por necessidade e tentação: tínhamos um país ligeiramente atrasado face aos restantes países Europeus e o dinheiro proveniente da Europa foi uma forte tentação, muitas vezes mal aplicado, destruindo grande capacidade produtiva do país em troca de tostões. O país descurou a produção para apostar no consumo e na construção. Como se viu nos últimos 15 anos, fê-lo em excesso, endividando-se em demasia para prosseguir com esta “estratégia”. Por volta do ano 2000, devia ter percebido que o seu estágio de desenvolvimento e estrutura da economia havia mudado (bem como novas premissas como a adopção do Euro). Nunca ponderou sobre isso. “Ponderou” em 2011, novamente por necessidade. O país não percebe, porque não é informado, quais são os benefícios e perigos de se apostar em cada variável do PIB em determinada fase do seu estágio de desenvolvimento.
Nesta última década Portugal cresceu em média 0,8% ao ano. Tal número devia fazer-nos refletir. Dados estes parcos resultados, apostar constantemente na mesma estratégia é errado e estamos a repeti-lo em 2016. É importante perceber de que forma podemos inflacionar o PIB e quais as consequências em se apostar em determinada variável. Para isso, é necessário abordar várias questões:
- Conhecer o perfil histórico de Portugal: é um país relativamente equilibrado entre as suas componentes mas com peso excessivo no consumo, comparativamente a outros países desenvolvidos. Em 2015, as componentes tinham o seguinte peso: 65% para consumo privado; 18% para consumo público; 15% para Investimento; 40,3% para Exportações e 39,5% para importações. Em 1976 os pesos eram, respetivamente: 67-13-30-14-24. A estrutura da nossa economia pouco mudou em 40 anos. O consumo privado manteve o mesmo peso, perdemos metade do investimento e a nossa economia ficou bastante mais aberta, melhorando mesmo o saldo da balança comercial (positiva apenas após 2013).
- Existem diferentes perfis de países, dependendo dos recursos, estágios de desenvolvimento e relações com o exterior. Ter uma constituição do PIB equilibrada entre as componentes é desejável, convém diversificar a economia. Angola e Venezuela dependem demasiado das exportações, tornando-os muito vulneráveis a variações de preço; Países demasiado turísticos, como a Republica Dominicana, idem, ficando dependentes do turismo. Estes países devem apostar em Investimento público e privado para diversificar a economia. O Brasil e China dos últimos 20-30 anos, sem classes médias e com sociedades rurais, tinham uma grande margem de crescimento no consumo privado. Apostaram corretamente nessa variável, devem agora adaptar a estratégia. Os Países Africanos têm margem para apostar no consumo. É, no entanto, necessário que invistam em infraestruturas básicas como escolas, redes de saneamento, estradas, hospitais, e infraestruturas que estimulem o grande consumo, retalho, comércio tradicional, logística, banca, serviços, etc. Os Países desenvolvidos, principalmente os Europeus e onde se inclui Portugal, com uma excepção ou outra tiveram crescimentos baseados no consumo principalmente desde o fim da segunda guerra mundial. Tendo já boas capacidades exportadoras e sociedades consumidoras e muito endividadas, torna-se difícil aumentar mais o consumo com tanta divida e pouco capital acumulado. Sobra-lhes o investimento. Para o impulsionar, há que criar condições para que este apareça, baixando e criando estabilidade fiscal, para aumentar a confiança dos investidores. É necessário também fomentar a poupança dos particulares para que invistam no futuro. A Irlanda, por exemplo, aposta assumidamente no investimento através de uma carga fiscal reduzida, atraindo investimento direto estrangeiro. Tornou-se assim numa economia invejável com salários elevados. Cada país tem de se conhecer e adotar uma estratégia em conformidade com o seu estado de desenvolvimento. Portugal poderia, por seu lado, identificar países semelhantes que possam servir de benchmark, implementando ideias vencedoras que estejam em vigor nesses países.
- Pesos diferentes resultam em impactos diferentes: países subdesenvolvidos geralmente dependem demasiado das exportações e têm muito pouco investimento ou consumo. Variações no preço do produto ou serviço que exportam determinam o sucesso da sua economia. Por outro lado, países desenvolvidos e com variáveis do PIB equilibradas entre si têm maior dificuldade em impulsionar o crescimento total, visto valerem 20 ou 25% do produto. Crescer 1% de uma variável que vale 20% do produto é diferente de crescer 1% numa variável que vale 80%.
- Os impactos de cada componente:
- Apostar no consumo privado dá frutos eleitorais, pois impulsiona-se esta variável dando dinheiro às pessoas. Passa-se a ideia de que as empresas irão vender mais, mas para além de não ser liquido que o consumo realmente aumente (devido a dividas e incertezas elevadas), este pode até ser contraproducente, pois no caso Português 40% dele vem do exterior, via importações, prejudicando o PIB.
- O Consumo Público está-nos praticamente vedado pelo estado de falência do país.
- O investimento alcança-se com reduzida e estável carga fiscal e aumento de competitividade, fomentando a poupança dos particulares e confiança dos investidores e empregadores. Países com taxas de poupança elevadas geram investimento e consumo saudável a longo prazo e considero este um enorme problema de Portugal: ter uma taxa de poupança líquida negativa e ter um peso do Investimento de apenas 15% do PIB. É curto para um país desenvolvido que quer ter uma economia saudável.
- Exportações e Importações: é positivo tê-los elevados, significando uma grande abertura aos mercados internacionais. É apenas crucial ter uma balança positiva.
Em conclusão, tendo em conta que a aposta no consumo privado trouxe escassos resultados e que o investimento público nos está praticamente bloqueado em termos orçamentais, sobram dois caminhos com clara margem de progressão, sem prejuízo das outras componentes: aumento de exportações mas principalmente privilegiar o investimento, que nos trará benefícios futuros que a sociedade não consegue percecionar no imediato mas que são importantíssimos para uma economia global se manter saudável a longo prazo. Portugal tem falta de poupança, confiança e capital. Para os aumentar, terá que reduzir a carga fiscal para empresas e particulares e torna-la estável, confiável.
Infelizmente e a julgar pelas últimas intenções declaradas em se taxar a poupança e o imobiliário, que tanto investimento tem trazido ao país, caminhamos no sentido inverso ao desejável.
Todas as empresas têm orçamentos e estratégias que querem seguir, assim como as famílias gerem os seus rendimentos e despesas durante o ano. O país não pode ser diferente: deve ter uma estratégia de crescimento bem definida para determinada fase. Apoiados apenas em previsões, revisões e constantes falhanços nas metas, sem perceber o que se passa em Portugal, não evoluiremos de forma sustentada.
Gostaria de ver, como atento e jovem cidadão Português, os responsáveis políticos discutirem uma estratégia para o futuro do país, em vez de se embrenharem constantemente na espuma dos dias.