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Como a tecnologia está a abrir uma nova era em Lisboa

A vinda de mais empresas de base tecnológica para Lisboa está a contribuir para regenerar zonas da cidade que se encontravam degradadas.

Setembro 27, 2019

A recente fama de Lisboa como um dos hubs tecnológicos mais pujantes da Europa está a abrir novas oportunidades para aquela que é uma das cidades mais antigas do mundo.

Uma das preferidas entre os empreendedores, e também cada vez mais entre as empresas, a capital portuguesa vê agora zonas que se encontravam delapidadas a ganhar nova vida e novos eixos de escritórios a emergir.

Nas margens do rio Tejo, o Hub Criativo do Beato está a contribuir para aumentar a reputação de Marvila como um dos bairros mais promissores. Albergando cerca de 3.000 especialistas e developers que ali trabalham para empresas como o grupo de inteligência artificial Jungle All ou o fabricante automóvel alemão Daimler, em breve este campus de 35.000 m² vai ter, bem próximo, apartamentos de gama alta pensados para dar resposta aos profissionais da área tecnológica que por ali flutuam.

“As antigas zonas industriais que durante anos foram negligenciadas, especialmente as que estão junto ao rio, voltam agora a estar em foco” diz Mariana Rosa, Head of Office Agency da JLL Portugal. “Os promotores estão a propor espaços de coworking, bem como um mix de restaurantes, retalho e escritórios junto a projetos residenciais, o que irá marcar uma mudança significativa”.

Olhar em frente

Enquanto as startups continuam a procurar instalações entre o leque crescente de incubadoras e espaços de coworking, as empresas e entidades corporativas voltam as suas atenções para áreas como o Parque das Nações, a zona high-tech já estabelecida da cidade. 

Aí, projetos como a futura torre de 14 pisos K-Tower ou o parque de escritórios Exeo estão a contribuir para satisfazer a procura por áreas maiores por piso, atendendo às necessidades das operações digitais de multinacionais, que por cá procuram o acesso a mão de obra mais qualificada e a rendas de escritórios mais baixas comparativamente a outras capitais europeias.

Recentemente, fabricantes automóveis como a Volkswagen e a Mercedes-Benz abriram centros de desenvolvimento de software na cidade, e também a Uber se instalou em Lisboa.

Nomes que se juntam a várias outras estórias nacionais de sucesso na área da tecnologia, como a retalhista online Farfetch, avaliada em cerca de 8 biliões de dólares, e a empresa de software Outsystems, apoiada pela Goldman Sachs e pela KKR. Tal como o portal de reservas de alojamento para estudantes Uniplaces ou a tecnológica de serviços Codacy, ambos lançados em 2012 e que continuam a crescer.

“Hoje, a procura de escritórios é muito diferente do que era no passado, com Lisboa no radar de grandes ocupantes multinacionais”, diz Mariana Rosa. “Mas também existem startups que procuram estabelecer-se em Portugal pela primeira vez, além das que estão em expansão. Isso leva a um aumento da procura por escritórios de elevada qualidade”.

De acordo com a JLL, no ano passado a absorção de escritórios atingiu o seu pico desde 2008 e 43% do pipeline previsto para o próximo ano já está pré-arrendado.

Além disso, existem cerca de 400.000 m² de novos escritórios com arranque de construção previsto para o médio prazo, com o setor da tecnologia a continuar a liderar a procura.

Afluxo de talento

No centro do amadurecimento da cena tecnológica de Lisboa estão os talentos contratados pelas startups e multinacionais. O programa português de Tech Visa trouxe para o país 610 trabalhadores estrangeiros só no decurso deste ano à data, a maior parte dos quais com diploma na área das ciências computacionais.

A elevada qualidade de vida é um dos fatores que atrai esta mão de obra talentosa, mas não só. O clima temperado de Lisboa, a facilidade de acesso às praias e uma cena social intensa são outros argumentos fortes, já para não mencionar o custo de vida inferior quando comparado com outras capitais europeias.

Portugal também está à procura de talento local, e as suas universidades estão fortemente focadas nas capacidades tecnológicas, com o Instituto Politécnico de Lisboa e a UpTec no Porto a distinguirem-se como importantes fontes de licenciados. 

“Nos últimos anos, Portugal sofreu menos da chamada fuga de talento comparativamente a outros países europeus”, diz Mariana Rosa. “Ainda assim, manter quer a oferta de talentos de topo quer de escritórios é essencial se Lisboa quiser aproveitar esta revitalização levada a cabo desde a crise financeira global de 2008”.

Contudo, à medida que a cidade cresce e mais empresas consideram opções além do seu eixo central de escritórios, as novas áreas precisarão de boas ligações de transportes.

“Há uma necessidade premente para uma maior conectividade tanto para as pessoas que se deslocam para o trabalho diariamente como para os residentes”, diz Mariana Rosa. As autoridades municipais estão a dar resposta, com planos para mais duas estações de metro na Estrela e em Santos e com mais autocarros e corredores destinados.

Construindo o futuro

Para Lisboa, tais investimentos em infraestruturas refletem e suportam um renovado e mais vasto otimismo económico; Portugal espera o seu primeiro excedente orçamental em 2020.

No entanto, esta sua popularidade, sobretudo entre o setor tecnológico, significa que a cidade se está a tornar mais dispendiosa para residentes, expatriados e empresas. As rendas prime de escritórios cresceram de 12 para 17 euros por metro quadrado nos últimos cinco anos, e ainda se esperam que cresçam mais, diz Mariana Rosa.

“Esperemos que isso não impacte na escolha de uma localização para as empresas quando estas se relocalizarem”, conclui a responsável da JLL. “Naturalmente, rendas mais elevadas atrairão mais promotores e investidores, mas esperemos que as rendas não aumentem ao ponto de Lisboa deixar de ser competitiva em relação aos seus pares europeus”.

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