Artigo

A sustentabilidade também é uma questão de rentabilidade

Artigo de opinião por Maria da Cunha e Menezes, Head of Project & Development Services and Sustainability

Maio 01, 2024

A sustentabilidade é um tema incontornável na agenda de todas as empresas com operações globais, e especialmente as que estão na União Europeia, que quer ser a primeira economia mundial com zero emissões de carbono.

Dado o “contributo” dos edifícios para estas emissões, este é também um tema central na agenda da indústria imobiliária, sendo importante perceber quais os desafios que enfrenta e como é que o setor está a responder às novas dinâmicas trazidas pela sustentabilidade.

Esse “novo” paradigma, em que a sustentabilidade está no centro das preocupações das empresas, surge, essencialmente, ligado a três razões: Regulamentação, Gestão de Riscos e Mercado.

(1) Há uma crescente regulamentação em matéria de sustentabilidade na EU, aumentando a necessidade de conformidade com critérios de ESG (Environmental, Social and Governance). Desde logo, os “Zero Emission Buildings (ZEBs)”, um conceito ainda mais exigente trazido pela legislação e o qual coloca grande pressão sobre a indústria imobiliária para alcançar os objetivos de descarbonização. Embora o quadro regulatório possa, por vezes, ser visto como pesado e complexo exigindo um esforço de constante atualização sobre estas matérias e consequente implementação de mudanças, pode e deve também ser visto pelas empresas como uma ótima oportunidade para acelerar o seu crescimento. Isto porque permite-lhes gerar poupanças, melhorar a sua eficiência, aumentar a sua resiliência, identificar novas oportunidades de negócio e atrair mais (e novos) investidores. Adicionalmente, o facto de estarmos perante um quadro legislativo ainda em desenvolvimento permite considerar as necessidades e dificuldades das empresas ao longo do caminho, garantindo que o mercado se vá adaptando sem perder a urgência.

(2) Num outro prisma, a incorporação de critérios de sustentabilidade permite às empresas a gestão e redução de vários riscos. Podemos destacar, desde logo, a construção de uma reputação positiva da empresa ao mostrar o seu compromisso com a mitigação e adaptação às alterações climáticas. Ter ativos sustentáveis reduz o risco de não estar alinhado com a regulamentação, evitando penalizações futuras e reduz os custos associados com a operação dos ativos, promovendo um desempenho financeiro positivo a longo prazo, além de promover o seu valor. O investimento em sustentabilidade permite ainda garantir que os edifícios são mais resilientes salvaguardando o investimento no ativo em si e das pessoas que os ocupam, o que é especialmente importante num contexto cada vez mais frequente de ocorrência de eventos climáticos extremos. Investidores e proprietários podem e devem investir hoje em sustentabilidade para garantirem aos seus edifícios a resiliência a longo-prazo e a redução à vulnerabilidade de riscos climáticos.

(3) Por último, a vertente do mercado, muito relacionada com os utilizadores, as novas gerações, o financiamento e a reputação das empresas. Vai muito além dos investidores e proprietários. É uma questão de ter um imóvel sustentável – pelas razões já referidas acima – e em como essa sustentabilidade permite a diferenciação no mercado, atraindo ocupantes e investidores com consciência social e ambiental. Um estudo que a JLL fez a nível global em 2022 mostra que até 74% dos ocupantes de escritórios estão dispostos a pagar uma renda mais elevada para ocuparem espaços mais sustentáveis. Um dos instrumentos mais recorrentes são as certificações de sustentabilidade, que são uma verdadeira proteção de valor dos ativos e cuja procura está a aumentar.

Sem prejuízo de todos percebermos estas novas realidades, a indústria imobiliária enfrenta vários desafios para alcançar os objetivos de descarbonização. Entre eles, o elevado número de atores que podem e devem contribuir de forma clara e coordenada para este processo, mas os quais têm, muitas vezes, objetivos e áreas de especialização fragmentadas e até desalinhadas. É crucial estruturar soluções integradas desde o início, para entender o objetivo final e articular adequadamente as medidas a serem tomadas em cada etapa do processo, sem perder a perspetiva global.

Para enfrentar efetivamente o desafio que temos pela frente, fica também evidente a necessidade de aproveitar soluções digitais eficazes. A EU chamou essa abordagem de "The Twin Transition" e reconhece que o processo de descarbonização não pode ser alcançado sem o devido apoio de dados e tecnologia necessária para interpretá-los e para gerir medidas efetivas de mitigação.

Um outro desafio é o papel fundamental que o custo de capital envolvido nas adaptações às alterações climáticas desempenha, especialmente na atual conjuntura económica, que exige adotar estratégias de investimento prudentes e bem planeadas que maximizem o retorno de cada euro investido num ativo. Nesse contexto, é fundamental analisar cenários de descarbonização a curto, médio e longo prazo, adaptando-os aos planos de investimento naturais dos ativos.

De acordo com Paula Albaladejo, diretora de Project & Development Services para o Cluster Sul da Europa da JLL, espera-se que até 2050 as cidades dobrem de tamanho. Diante desse cenário, o setor imobiliário tem um papel crucial na criação de malhas urbanas sustentáveis para que os empreendimentos sejam compatíveis com a disponibilidade de recursos, o bem-estar social dos seus residentes, e, ao mesmo tempo, garantam a rentabilidade e resiliência do negócio imobiliário. Com uma visão compartilhada, objetivos de descarbonização bem estabelecidos e o arcabouço regulatório existente, temos as ferramentas necessárias para construir um futuro sustentável. Essa é a nossa oportunidade de contribuir significativamente para a luta contra as alterações climáticas e transformar o setor imobiliário num pilar da economia de baixo carbono do futuro.

Em suma, a integração de práticas sustentáveis na atividade de todos os elos da cadeia de valor do negócio imobiliário - promoção, construção, locação, operações de compra e venda, etc. - cria um círculo virtuoso em que incentivos regulatórios e benefícios empresariais e corporativos apontam na mesma direção. Se todos os atores do setor imobiliário forem capazes de colocar a sustentabilidade no centro de sua atividade e estratégia de negócios, todos os stakeholders do setor - cidadãos e consumidores, investidores e empresas - beneficiarão muito. Essa visão compartilhada não melhora apenas o nosso ambiente construído, mas também constrói um futuro mais próspero e sustentável para as próximas gerações.

*Artigo escrito para a Vida Imobiliária

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