Artigo

O fim de um sonho híbrido? - Parte 2

Artigo de Opinião por Caetano de Bragança

Fevereiro 21, 2025

No final de 2024, o mercado imobiliário corporativo nos Estados Unidos atingiu um marco significativo na sua recuperação pós-pandemia, invertendo pela primeira vez a tendência de perda de ocupação da área de escritórios. Paralelamente, o relatório anual da JLL sobre o Futuro do Trabalho revela uma mudança rápida nas políticas de trabalho das empresas da Fortune 100, com uma clara tendência de regresso ao escritório. Estaremos a observar o fim do Sonho Híbrido?

Primeiro os dados: No final de 2024, apenas 1% dos colaboradores das empresas da Fortune 100 trabalhavam em regime 100% remoto, enquanto no início de 2022 este número era de 30%. Relativamente a políticas híbridas, 74% dos colaboradores adotam este regime, com uma presença média de 3,4 dias por semana no escritório, uma subida de 0,4 dias de presença no último ano. Mais significativo ainda é que 21% das empresas têm políticas 100% presenciais, um aumento substancial em relação aos 2% de 2022.

Esta tendência de regresso ao escritório ganhou um impulso adicional com a reeleição de Donald Trump que, numa das suas primeiras ações após a tomada de posse, ordenou o regresso dos funcionários federais ao escritório a 100%.

Várias empresas de renome seguiram esta tendência. A Amazon, que em setembro de 2024 fez o anúncio que ninguém esperava – regresso 5 dias por semana ao escritório – implementou o seu plano a partir de 1 de Janeiro deste ano, apesar das críticas públicas, do risco de perder talentos, e das acusações de falta de espaço para todos os colaboradores. O CEO Andy Jassy argumenta que a proximidade física é fundamental para a inovação e cultura da empresa. Outras empresas como AT&T e o Washington Post também anunciaram a transição de três para cinco dias de presença obrigatória no escritório.

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Esta mudança impacta o mercado imobiliário de escritórios. Pela primeira vez desde o quarto trimestre de 2021, o mercado experimentou uma absorção líquida positiva, ainda que marginal, nos Estados Unidos.

Relativamente a Portugal, os números da JLL mostram que o mercado português também deu sinais de regresso aos escritórios em 2024. No Porto, o take-up de escritórios bateu recordes históricos, superando os 75.000 metros quadrados. Em Lisboa, subiu 97% em 2024 face a 2023, ultrapassando os 220.000 metros quadrados.

Considerando as projeções futuras, espera-se que mais empresas estabeleçam gradualmente requisitos de presença ou aumentem incrementalmente os dias obrigatórios no escritório. Olhando às empresas da Fortune 100, para 2025, a previsão é que a média de presenças no escritório se estabilize entre 3,5 a 4 dias por semana, aproximando-se dos padrões pré-pandémicos.

No entanto, é importante notar que alguns empregadores continuarão a posicionar-se como “remote-first”, oferecendo essa opção como uma forma de atrair talentos. Além disso, muitas organizações manterão o trabalho remoto como ferramenta de inclusão e acesso a talentos fora do mercado local.

A pandemia e a obrigatoriedade de adesão a “Novos Modelos de Trabalho” levaram a que nos anos após o confinamento muitas empresas aproveitassem para transformar os seus escritórios, segundo o princípio “flight to quality”. Os escritórios foram (e estão a ser) repensados para serem mais sustentáveis, eficientes, digitalizados e experienciais, mas sobretudo são espaços de maior qualidade com novas tipologias mais abertas e informais e com foco na promoção e aceleração da colaboração.

Embora os modelos de trabalho híbridos estejam longe de deixar de ser o “novo normal”, estão globalmente a evoluir para modelos que se assemelham mais ao trabalho presencial tradicional, mais restritivos. As empresas apontam para uma “perda de cultura”, mas suspeita-se que a principal razão se prende com fatores de produtividade e competitividade: “I’m a big believer that people are more productive when they’re in person”, Elon Musk. Se em Portugal ainda não vemos o panorama que encontramos nos Estados Unidos, todos os dados indicam que a tendência é de um regresso gradual aos escritórios em 2025.

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Head of Consulting Portugal

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